This post is also available in: Inglês Espanhol
Condições, excepcionalmente, secas na Amazônia ocidental podem murchar a vegetação e criar condições favoráveis para incêndios no início da temporada, de acordo com uma equipe internacional de cientistas monitorando a maior floresta tropical do mundo.
O Departamento de San Martin no Peru, a Amazônia boliviana e o Bioma Pantanal no Brasil são particularmente vulneráveis, segundo os cientistas Kátia Fernandes e Douglas Morton em uma previsão sazonal de risco de incêndio na Amazônia. Fernandes e Douglas fazem parte do SERVIR-Amazônia, um programa de pesquisa financiado pela NASA e pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
O relatório prevê uma temporada de incêndios entre normal e ligeiramente acima da média para a Amazônia ocidental, que abrange a Colômbia, Equador, Peru, e partes da Bolívia e Brasil. O relatório também prevê atividade de incêndios abaixo da média para a maioria das regiões nos países do sul da Amazônia como o Peru, Bolívia, e Brasil nos mesmos meses, com exceção de Santa Cruz, Bolívia, que poderia ver uma maior atividade de incêndios. O relatório visa ajudar os países a priorizar áreas para alocação de recursos.
Este ano, a temporada de incêndios no sul da Amazônia – que normalmente começa em junho e atinge o pico em setembro – foi mais seca em contraste com o ano passado, quando incêndios intensos arrasaram partes da floresta tropical. (Precipitações próximas da média a acima da média em maio de 2020 provavelmente atenuaram a severidade da temporada de incêndios em algumas regiões.)
“Temos 20 anos de dados e entendemos como a terra está funcionando de certa forma como um sistema,” diz Morton. “Podemos usar isso de uma forma produtiva para prever as condições e ajudar a mobilizar recursos e atenção para áreas que podem ser mais propensas a incêndios.”
A organização de pesquisa sem fins lucrativos Amazon Conservation já detectou incêndios na Amazônia brasileira este ano, ocorrendo mais de uma semana antes do que no ano passado e principalmente em áreas recentemente desmatadas. “O governo brasileiro proibiu queimadas não autorizadas em 27 de junho; portanto, presumimos que a maioria das 160 grandes queimadas depois dessa data foram ilegais,” disse a organização em seu relatório de agosto.
“Olhando agora e adiante para 2021, prevemos uma correlação muito alta entre áreas recentemente desmatadas (ou seja, desmatadas em 2020 e no início de 2021) e grandes incêndios,” escreveu Matt Finer, uma cientista da Amazon Conservation, em um e-mail. “À medida que a estação seca continua e se intensifica em agosto e setembro, há um risco maior de que essas queimadas possam sair do controle e escapar para a floresta primária circundante, criando incêndios florestais reais na Amazônia.”
Mais de 10.000 quilômetros quadrados de floresta tropical foram desmatados em 2019, e quase a mesma quantidade foi desmatada em 2020 – a maior área em mais de uma década. Números preliminares para 2021 sugerem que a taxa de desmatamento está aumentando. Toras, galhos e vegetação seca deixados pelas operações de desmatamento no ano passado podem ser queimados para limpar as terras este ano, e os cientistas estão preocupados que esse fogo possa escapar e se espalhar para áreas de floresta primária da Amazônia.
Alertas de desmatamento do sistema de monitoramento brasileiro e dados de incêndios ativos mostram que quase 5.000 quilômetros quadrados de área desmatada desde 2019 ainda não foram queimados. A maior parte do desmatamento nesse ano ocorreu em terras protegidas, propriedades privadas e terras federais sem status de proteção, e muitas delas estão próximas a florestas em pé.
“Sabemos que muitas terras foram desmatadas no ano passado e não queimadas,” diz Paulo Brando, especialista em ecologia tropical que colabora com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). “Então, há essa pilha de material não queimado, e é apenas uma questão de quando vamos criar essa enorme fogueira, uma das maiores fogueiras do planeta.”
Embora sejam cobertos em grande parte por florestas tropicais densas e úmidas, os 6,7 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia são um vasto mosaico de ecossistemas com diferentes regimes de temperatura e precipitação: florestas tropicais, florestas sazonais, florestas decíduas, florestas inundadas e savanas. Quando os cientistas falam sobre a temporada de incêndios na Amazônia, eles geralmente não estão se referindo a todo o bioma.
Os incêndios florestais na Amazônia normalmente acontecem após o desmatamento de uma área. As florestas são geralmente desmatadas na estação chuvosa e queimadas durante a estação seca. No norte da Amazônia, a estação seca vai de novembro a maio, e no sul da Amazônia, de maio a novembro.
A intensidade das estações chuvosa e seca também varia. Como muitas regiões tropicais, a Amazônia é vulnerável a mudanças na precipitação em decorrência de fenômenos como El Niño e La Niña – aumentos ou diminuições significativas nas temperaturas da superfície do mar no Pacífico central e equatorial que acontecem em intervalos irregulares e variam entre dois e sete anos.
A Amazônia também é vulnerável às mudanças de temperatura da superfície do mar no Oceano Atlântico tropical, a região que dá origem aos furacões que atingem os EUA. As mudanças na temperatura da superfície do mar no Oceano Atlântico podem, na verdade, desviar chuvas de furacões da América do Sul e da região amazônica. “Portanto, algumas das piores secas na Amazônia estão, na verdade, conectadas às altas temperaturas da superfície do mar no Oceano Atlântico, e não aos anos de El Niño,” diz Morton.
A previsão do SERVIR para a Amazônia ocidental foi derivada de um modelo de previsão de incêndios usando dados de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) do Oceano Atlântico. Para o sul da Amazônia, os pesquisadores usaram dados de TSM dos Oceanos Pacífico e Atlântico tropicais, em combinação com 20 anos de detecção de focos de incêndios pelo satélite Terra da NASA.No entanto, este é um ano do La Niña. “Acontece que a parte sul da América do Sul é mais vulnerável às chuvas ou secas durante as condições do La Niña,” diz Morton. “E assim, parte da atual seca nos Biomas Cerrado e Pantanal, e em uma pequena extensão na região sul da Amazônia, atribuímos aos padrões do La Niña que tendem a levar a menos chuvas nessas regiões.”
Por ser a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia em sido valorizada como um importante sumidouro de dióxido de carbono da atmosfera, auxiliando na mitigação do aquecimento global. Mas, devido aos recentes incêndios florestais, estudos sugerem que partes da Amazônia agora liberam mais carbono do que armazenam.
Marcia Macedo, cientista associada do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, diz que muitos grupos estão monitorando a situação dos incêndios na Amazônia e trabalhando em soluções. “Mas é um alvo em movimento,” diz ela. “Obviamente, há a pandemia, a mudança no governo, mudança nas taxas de desmatamento, e também a mudança climática está alterando os regimes de incêndio. Você tem áreas que nunca queimaram que estão queimando, e estão queimando de forma diferente do que costumavam queimar.”
A Amazônia tem atualmente um número sem precedentes de programas de monitoramento por satélite, analisando décadas de dados e agora vendo eventos de incêndios em tempo real.
“Nós sabemos o que está acontecendo. Nunca tivemos tantos satélites, tantas plataformas, ferramentas ou algoritmos que podem observar a Amazônia do espaço,” diz Brando. No entanto, ele lamenta que a Amazônia está sendo destruída à vista de todos.
“Não conseguimos mudar a vontade política com a incrível ciência sendo feita de maneiras que seriam impensáveis algumas décadas, ou até mesmo anos atrás,” diz ele.
Um novo estudo da Amazon Conservation sugere que territórios indígenas e designações de áreas protegidas são algumas das melhores esperanças para a conservação a longo prazo das florestas críticas remanescentes na Amazônia.
Macedo também observou isso. “As terras indígenas, com certeza, fazem um ótimo trabalho, e elas fazem um pouco melhor do que as áreas protegidas porque têm pessoas no local que as administram e defendem a conservação,” diz ela. “Mas essas terras não estão imunes; vemos alguns sinais de degradação florestal.
“Todo mundo está apenas tentando descobrir qual é a fórmula para lidar com a nova realidade em alguns desses lugares.”
Finally…
…thank you for reading this story. Our mission is to make them freely accessible to everyone, no matter where they are.
We believe that lasting and impactful change starts with changing the way people think. That’s why we amplify the diverse voices the world needs to hear – from local restoration leaders to Indigenous communities and women who lead the way.
By supporting us, not only are you supporting the world’s largest knowledge-led platform devoted to sustainable and inclusive landscapes, but you’re also becoming a vital part of a global movement that’s working tirelessly to create a healthier world for us all.
Every donation counts – no matter the amount. Thank you for being a part of our mission.
Um resumo de um dos ecossistemas mais críticos do nosso planeta
O agronegócio está destruindo os ecossistemas do Brasil. Neste artigo de opinião, dois jovens agricultores explicam como a agrofloresta oferece uma alternativa.