‘Acreditamos que as florestas podem ser restauradas’

Conheça o GLFx Amazônia Peruana, um dos novos grupos de ação local da rede GLFx

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Esse artigo é parte de uma série sobre a rede de grupos participantes da rede GLFx, voltada para a restauração de paisagens. Saiba mais sobre a iniciativa GLFx e junte-se a esta comunidade clicando aqui.

Tradução Isabel Mesquita

A Amazônia Peruana é um dos locais com maior biodiversidade do mundo, abrigando milhares de espécies de animais e plantas ameaçados pelas mudanças climáticas e pelo desmatamento.

A extensão da floresta amazônica peruana corresponde a mais de 60% de todo o território nacional. Essa área é também o lar de centenas de povos indígenas que vivem na região há milhares de anos (alguns inclusive em relative isolamento) e que detém um vasto e rico conhecimento sobre os ecossistemas locais.

Este ano, a organização sem fins lucrativos Camino Verde juntou-se à rede de Sementes GLF da iniciativa GLFx, junto a diversas organizações que trabalham com comunidades para a restauração de paisagens na África, Ásia e na América Latina e Caribe. A iniciativa GLFx foi lançada pelo Global Landscapes Forum em 2021 para promover e incentivar ações locais que promovam paisagens mais sustentáveis e a gestão e manejo integrados das paisagens.

A equipe da Camino Verde entrega plantas para comunidades locais em Loreto. Foto cedida por Camino Verde

Registrada no Peru e nos Estados Unidos, a organização Camino Verde – que agora também é conhecida como GLFx Amazonía Peruana – tem trabalhado para visiblizar a relação entre a conservação do meio ambiente e os direitos indígenas há mais de 15 anos.  A organização atua em dois Estados da Amazônia Peruana – Madre de Dios e Loreto -, onde os povos originários são frequentemente excluídos dos processos de tomada de decisão que lhes afetam e enfrentam obstáculos quase intransponíveis para conseguir a titulação de suas terras.

“A restauração e conservação das paisagens devem ser feitas junto com e para os povos e comunidades amazônicas, de modo que as pessoas que dependem diretamente da floresta possam continuar a viver e crescer junto com a floresta, de forma que a paisagem local não seja destruída”, diz Robin Van Loon, diretor executivo e fundador da Camino Verde.

Camino Verde (Caminho Verde, em português), tem muito a acrescentar à GLFx por seu notável histórico de atuação. A organização conta com uma equipe de 20 membros que trabalham e vivem na região, e que já plantaram mais de 200.000 árvores de 400 espécies nativas em Madre de Dios e Loreto, compondo um rico Banco de Sementes Vivas da biodiversidade amazônica.

Composto por agricultores, silvicultores e especialistas em ecologia, a equipe da Camino Verde atua diretamente em 305 hectares de floresta primária, secundária e em áreas reflorestadas, contando com a participação de 106 famílias de 5 comunidades amazônicas em seus programas de plantio de árvores.

Rio Tambopata, onde a equipe da Camino Verde de Baltimori atua. Foto cedida por Camino Verde

Fundada em 2007, o objetivo da organização é restaurar a Amazônia através do fortalecimento e parceria com comunidades locais e agricultores, que juntos podem regenerar a floresta e melhorar seus meios de vida.

Entretanto, as regiões de Madre de Dios e Loreto possuem altas taxas de desmatamento, correspondentes a cerca de 51% das emissões de gases de efeito estufa de todo o país. O governo peruano assumiu o compromisso de reduzir o desmatamento na região amazônica em 30% até 2030. “O impacto acumulado de décadas de exploração de espécies valiosas afetou profundamente a floresta, e esse efeito permanece devido às atividades econômicas que impulsionam o desmatamento”, diz Clemencia Pinasco, gerente de comunicações da Camino Verde.

Atualmente, há poucas opções sustentáveis para garantir a subsistência de pequenos produtores e comunidades locais. As atividades que geram renda são muitas vezes associadas a práticas destrutivas como atividade madeireira, agricultura de corte e queima, pecuária e mineração de ouro. “Essas atividades insustentáveis ainda são as formas mais acessíveis de garantir a subsistência e renda na Amazônia”, afirma Pinasco.

“Precisamos encontrar formas de romper com o sistema vigente que incentiva o desmatamento e a subsequente perda da biodiversidade”, ela diz. “Acreditamos que as florestas podem ser restauradas e que isso pode ser feito com a melhoria da qualidade de vida das comunidades amazônicas, que são essenciais para proteger e conservar estas terras.”

Para Camino Verde, qualquer esforço para reduzir o desmatamento e restaurar a paisagem amazônica deve garantir benefícios concretos e sustentáveis para as comunidades que vivem e trabalham na região.

O benefício mais direto e tangível para as comunidaes é a renda obtida atraves venda de uma série de Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNMS), como óleos essenciais, baunilha amazônica, cacau nativo e mel de espécies de abelhas sem ferrão, todos produtos da agrofloresta de policultura diversificada (oposto da monocultura) criada pela Camino Verde.

Membro da equipe extraindo cuidadosamente mel de abelha Melipona eburnea da colmeia. Foto cedida por Camino Verde

Estes PFNMS proporcionam segurança alimentar, medicamentos e outros serviços essenciais aos grupos parceiros locais e à floresta; além disso, a renda gerada pela venda dos produtos incentiva a proteção da paisagem.

“Ainda falta conhecimento e especialização para gerar os PFNMS de forma eficaz e sustentável; além disso, os agricultores e comunidades locais tem dificuldade para se conectar aos mercados locais e internacionais para vender e distribuir seus produtos”, diz Van Loon.

“Nós tentamos ultrapassar estes desafios oferecendo treinamentos e recursos para que nossos parceiros locais das comunidades possam começar a produzir PFNMS e, assim, gerar renda para suas famílias.”

A região onde a Camino Verde atua também é palco de instabilidade política – como observado nos protestos que tomaram o Peru recentemente -, o que traz mais questões que afetam a população local, a oferta de serviços essenciais e de oportunidades de emprego e a disponibilidade de recursos.

Membro da equipe Camino Verde Baltimori preparando tanques de destilação para a produção de óleos essenciais. Macarena Tabja

Madre de Dios foi um dos focos dos protestos, onde ocorreram bloqueios de estradas que duraram mais de 40 dias e que prejudicaram a distribuição de bens essenciais, resultando em um drástico aumento dos preços de comida, gasolina e gás de cozinha.

Mesmo enfrentando diversos obstáculos, Camino Verde segue trabalhando em suas ações de restauração junto a seus parceiros, colaboradores e apoiadores financeiros. Dentre estas ações estão o Programa “Meios de Vida dos Cultivadores de Pau Rosa” – dedicado à criação de cadeias de valor regenerativas a partir do reflorestamento de espécies de árvores ameaçadas de extinção – e o Programa de Transparência “RealTrees”, que usa tecnologia blockchain e inteligência artificial para que os financiadores do Camino Verde possam rastrear as árvores plantadas com seu apoio.

Assim, essa nova Semente GLF encontra motivação suficiente em seu belo entorno para seguir com seu trabalho diário na Amazônia Peruana apesar de todos os desafios.

“Não importa há quanto tempo você more aqui, todo dia é possível descobrir algo novo em uma curta caminhada pela floresta”, diz Pinasco. “Há muito conhecimento valioso das comunidades de nossa região e milhares de espécies que ainda não foram descobertas. A inspiração neste ambiente é inesgotável, assim como os motivos e a importância de nosso trabalho.”

Leia mais informações sobre a iniciativa GLFx e sobre as outras Sementes GLF aqui.

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